Comissão de Trabalhadores da MEO

Semelhanças nas práticas das multinacionais

money-santa
Em 2021, a título de bónus e outras remunerações variáveis pagas a gestores, administradores ou gerentes, a Administração da MEO recebeu 4 milhões e 250 mil euros.

É prática comum as multinacionais comunicarem com os seus trabalhadores, fazendo parte da estratégia para persuadir emocionalmente as estruturas sobre os benefícios, sucessos e preocupações das administrações. A empresa sueca IKEA, com operações em várias cidades de Portugal, segue esta prática.

Conforme o comunicado da IKEA, a empresa está a realizar um investimento de 8,5 milhões de euros em aumentos salariais e bónus de desempenho, reconhecendo a dedicação e competência dos trabalhadores após um ano repleto de desafios.

Em Portugal, a IKEA afirma que a sua política de compensações e benefícios está integrada numa estratégia de longo prazo, com mais de 90% dos trabalhadores em contratos sem termo e sem disparidades salariais entre homens e mulheres. Apesar de não ser possível validar esta informação de forma independente, parece credível. O anúncio utiliza expressões comuns, como “premiar e recompensar o contributo diário de quem tem vestido a camisola da empresa ao longo destes anos”, sem, no entanto, especificar quem e quantos dos trabalhadores foram efetivamente “premiados”.

Ao comparar com a MEO, que distribuiu alegadamente 5 milhões de euros em 2022, sabemos que cada um dos 3606 trabalhadores premiados, dos 4430 elegíveis, terá recebido um valor variável, que em média seria de 1387€, embora saibamos que foram muitos os trabalhadores que receberam valores muito inferiores a este. Pode-se inferir que os restantes 824 não foram considerados elegíveis, e toda a área comercial terá sido excluída, alegadamente com o argumento de que os valores variáveis pagos regularmente, conhecidos como “comissões”, serão suficientes. Não é possível validar a justiça, equilíbrio e grau de subjetividade destas decisões, mas é fácil concluir que apenas cerca de 65% dos trabalhadores foram escolhidos.

Sabe-se que 4,25 milhões de euros foram destinados a 9 membros do Conselho de Administração da MEO, na rubrica de “bónus e outras remunerações variáveis pagas a gestores, administradores ou gerentes”, conforme o quadro 13, rubrica 424 do Modelo 22 da declaração de IRC referente a 2021, exatamente no ano em que ocorreu um inédito despedimento coletivo na MEO. Não se pode afirmar que tenha sido um prémio, mas não se pode deixar de estabelecer uma relação. Fazendo cálculos “per capita”, pode-se afirmar que cada administrador recebeu quase meio milhão de euros, quase 350 vezes mais que a média de cada trabalhador. Atualmente, três desses administradores já não fazem parte da empresa, uma vez que dois estiveram supostamente envolvidos na Operação Picoas e outro saiu por opção da equipa de gestão presidida por Ana Figueiredo.

HRPortugal